"Miguel, das ordens minhas te encarrego;
Dentre os guerreiros querubins escolhe
A mais luzida flor, contigo os leva;
Sobre Satã vigia a fim que, ousado,
Perturbando de novo a paz no mundo,
Não tome agora com traição arteira
Sobre seus ombros a defesa do homem
Ou não se aposse do jardim formoso
Que era seu domicílio e fica vago."
(MILTON, 1964, p. 330)
SÃO MIGUEL ARCANJO & SUA FALANGE
Simbolicamente, na tradição cristã medieval, São Miguel Arcanjo e a sua falange de anjos foram elementos utilizados pela Igreja Católica como estratégia para ordenar o comportamento e o pensamento do homem ocidental na Idade Média. Desde então, até os dias de hoje, a figura de São Miguel, o santo-anjo, representa o guardião e o líder dos exércitos de Deus contra os inimigos do cristianismo, como também, as forças do mal - regidas pelo Anjo Decaído, Lúcifer. Trava-se aqui a guerra santa, onde o general do céu regerá o seu exército, em prol da luta do bem versus o mal, Deus vs Diabo.
Guerra Santa?!!! Sim, embora, toda a contradição, indo contra ao modelo de paz que conhecemos, na Era Medieval, as batalhas angelicais ou não, ao exemplo das Cruzadas, eram toleradas e incentivas como exemplo para se estabelecer a vitória do bem contra o mal, sendo assim,
"(...) a Europa medieval entendia a
violência de forma totalmente plausível
desde que justa, assim era vista a luta
contra as representações do mal, justi-
ficada no mito de São Miguel, o arcanjo
guerreiro que se encaixa bem como modelo
cosmológico dessa violência terrena."
(Hudson Moreira)
Quando o "mensageiro de Deus" e sua tropa celestial enfrentam e derrotam o dragão, expulsando-o do paraíso - O Mito da Eliade, a criação do mundo terreno; deixa evidente que o dragão é a representação das forças do mal, considerado como o próprio demônio, a serpente da Gênese. Nesse sentido, podemos considerar que a figura dragônica é a extensão de Lucifer se não o próprio, em forma de bestafera.
Neste sentido, o preconceito que sobrecai sobre os dragões nasce aí. Porém, se adorados por uns, também eram odiados por outros:
"(...) os “pagãos” viam no dragão a repre-
sentação do equilíbrio entre as forças
naturais, os cristãos, pelo contrário,
diziam ser o ele a possível materialização
das forças do mal unicamente, aquele que
desequilibra o cosmos, este último criado
por Deus e assim morada do bem. O dragão
católico remete a serpente que trouxe o
pecado ao mundo, é a própria representação
do demônio."
(Hudson Moreira)
Segundo Le Goff (1980), o dragão era visto como a encarnação de todo o mal, sendo, definitivamente considerado como o Satanás. E como tal, São Miguel foi enviado por Deus para expulsar Lúcifer do paraíso.
"(...) Vi então um Anjo descer do céu,
trazendo na mão a chave do Abismo e uma
grande corrente. Ele agarrou o Dragão,
a antiga Serpente – que é o Diabo, Satanás
– acorrentou-o por mil anos e o atirou
dentro do Abismo, fechando-o e lacrando-o
com um selo para que não seduzisse mais
as nações até que os mil anos estivessem
terminados. Depois disso ele deverá ser
solto por pouco tempo."
(Apocalipse, 20, 1-3)
Fonte:
BÍBLIA. A.T. Português. Bíblia de Jerusalém. Coordenação de Gilberto da Silva Gorgulho, Ivo Storniolo, Ana Flora Anderson. São Paulo: Paulus, 1985.
LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura no Ocidente. Lisboa: Estampa, 1980.
MILTON, John. Paraíso Perdido. Trad.: Antônio José Lima Leitão. São Paulo: Clássicos Jackson, 1964.
http://www.consciencia.org/sao-miguel-arcanjo-o-mito-e-seu-papel-no-belicismo-medieval